Meu governo

Meu governo acaba de perdoar a dívida do país amigo,
Então, posso encontrar repouso nas minhas requintadas contradições,
Pois, fui arguto o bastante para cooptar os mais maliciosos,
E arranjei coligações, estiquei as indulgências com os partidos,
Para submeter-me ao jogo aberto de cartas marcadas,
Tendo ainda o cuidado de não sair por aí testando a minha imunidade.

As reticências do poder estão em mãos duplas de cérebros militantes,
Estes, sim, não cometem jamais o erro de deixar a pasta sobre a mesa,
Porque entendem que os negócios de Estado pertencem somente a eles,
Logo, não há prêmio algum a ser repartido com alguém fora da sala,
Assim, no meu governo quero escrever a mais romântica ditadura,
Vez que toda memória será competente e definitivamente apagada.

Contudo, desconfio de que as bancadas não me apoiarão por anos a fio,
Mas me preparei para incentivar os sonetistas da democracia a me dar versos,
Para estabelecer com eles o Ministério das Vocações Poéticas,
Espécie de braço armado com sonetos e que fará quedar o peso da resistência.
Certo, por isso, será que poderei receber os meus correligionários no palácio,
Crendo que não haverá sanha qualquer para interromper o curso da história!

Nos braços desse amado e tangido povo entrarei para o “Guiness”, com orgulho,
Ouvindo a voz altaneira do locutor da TV, em cadeia nacional, anunciar solene:
O‘ Excelentíssimo Senhor Presidente da República dos Poetas falará à nação’!
Em comovido instante, empertigarei o peito e, com voz empostada, declararei:
Fazedores da hora da poesia, tecelões da palavra, ensinem-me a dizer adeus,
Mostrem-me o lugar dos seus monumentos, porque devo concluir o meu governo!
Daladier Carlos

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