Tem muito mais coisa nesse assunto do financiamento que o governo Raimundo Colombo assinou com o Bank of America Merril Lynch em 2012 e que Cacau comentou antes de viajar.
Em troca de dinheiro fácil no primeiro momento, o Estado pode ter legado um ônus gigantesco para as gerações futuras. Relembrando o tema rapidamente: em 2012, o governador foi aos EUA trocar uma dívida de R 1,5 bilhão pela qual dizia pagar 14% de juros, por uma de US$ 726 milhões pela qual pagaria 4% de juros + variação cambial. Na época, o dólar valia R$ 2,08, hoje passa de R$ 3,25. Valeu a pena arriscar com o dinheiro dos catarinenses?
Ao aprovar a operação do Estado, na época, a própria União, via Tesouro Nacional, chamou a atenção para uma questão crucial. Trecho do relatório diz o seguinte:
“Constata-se que, com a adoção da reestruturação, o Estado reduz os dispêndios com os serviços da dívida entre 2012 e 2015 às custas de um incremento no período de 2016 a 2022″.
Em bom português, está dito no relatório do Tesouro Nacional que o governo estadual fez uma operação em que teria folga para gastar inicialmente, às custas de um aperto logo adiante, a partir de 2016. Aliás, o aperto já chegou mais cedo, como se vê nos sucessivos cortes na administração.
Mesmo assim, o Tesouro Nacional autorizou que Santa Catarina contraísse um empréstimo em dólar, como também o fez com outros Estados. Diversos especialistas chamaram a atenção para o risco desse tipo de operação criar sérios problemas para os Estados. É o que aparece no horizonte agora, com a subida desenfreada da moeda americana. Uma matéria que está no site do próprio Senado Federal.
Uma das pessoas ouvidas na matéria, a coordenadora de auditoria cidadã da dívida, diz que é uma “aberração” trocar uma dívida com a União por uma dívida em dólar com um banco estrangeiro. Outro especialista, um professor de Economia da Universidade de Brasília chamado Roberto Piscitelli, foi além na mesma matéria. Disse ele:
“O Brasil é um país muito peculiar. Estados estão refinanciando as dívidas com a União por meio de bancos particulares, inclusive de instituições estrangeiras!”.
E o mesmo professor chama a atenção para o que parece mais absurdo: nos anos 90, quando os Estados estavam mal das pernas, endividados até o pescoço com instituições privadas, a União os socorreu. E agora, dando um jeitinho, Estados como Santa Catarina pedem socorro às instituições privadas para salvá-las (em dólar!!!) da União.
O pior é que o cenário econômico não tem nada de promissor e há quem já veja o dólar cotado a R$ 4 no futuro. E agora?
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