Reviravolta do setor moveleiro

Lembro, e não é com alegria, mas não podemos fugir da realidade, que em 2008, quando pretendia ser o candidato do PP para disputar as eleições municipais, o empresário Ismar Becker assinou sua sentença ao fazer um prognóstico: a indústria moveleira da região estava com os dias contados porque "era o fim de um ciclo". Quase foi crucificado, apontado como um profeta do apocalipse e criticado "porque não entendia nada do ramo". Sincera e honestamente, era o tipo de diagnóstico e previsão que eu gostaria de desmentir e, se preciso, também cravaria uma chaga em Ismar. A realidade é triste, mas os números confirmam que Ismar estava certo. Em algumas horas sem sono e em conversa com meu amigo Jonny Zulauf, advogado com o mesmo tempo de atuação que eu de São Bento do Sul, reavivamos a memória e lembramos algumas empresas que ajudaram a escrever nossa história e que simplesmente deixaram de existir, num período nem tão longínquo. Lembre comigo: Famovest, Zipperer, Treml, Danilo, Artematic. Consular, Real, Intercontinental, Imocol, 25 de Julho, Ki Luxo, Bercka, Tulipa, Pirane, Henry Matarazzo, Lençol e Dona Francisca. Jonny lembrou que dados levantados até dezembro de 2009 confirmam que oitenta empresas deixaram de existir. Só com o fechamento da Intercontinental, que chegou a ser a maior exportadora de móveis do Brasil, outras vinte e três, que eram terceirizadas, foram sepultadas. Em recuperação judicial no momento, mais quatro grandes: Artefama, Neumann, América e Serraltense. Como uma conversa leva à outra, vários observadores (agora não foi o Ismar) arriscaram um prognóstico que também não é animador. "Antigamente se ouvia dizer que as grandes iriam engolir as pequenas, mas a realidade está mostrando que não será bem assim. O que estamos vendo são as grandes com muitas dificuldades maiores, até pela estrutura de custos fixos administrativos e gerenciais, que, com a baixa cotação do Dólar, não têm margem para comercialização com resultado", afirma um dos consultados. "Acredito que as pequenas, com custos enxutos, administração pessoal, pequena capacidade produtiva e que por isso requerem menor gerenciamento, são as que irão sobreviver", complementou. Para corroborar um pouco do que está aqui escrito (o que está aberto para merecer reparos e opiniões), duas notícias não tão alvissareiras, mas que demonstram preocupação e corte na própria carne. A Irani, gigante que absorveu as instalações da antiga Cimo, outra que deixou saudades e fez história, agora no final do mês deverá encerrar seu processo produtivo local. Também a Artefama, cuja garra de seus administradores já superou planos, desvalorizações, tempestades - e que ainda é a maior exportadora de móveis do Brasil - já reduziu drasticamente seu quadro de colaboradores e em assembleia com credores propôs uma novação para pagamento das dívidas com alongamento e prazo. Para confirmar a credibilidade e confiança dos credores, de 140 presentes, apenas dois votaram contra. Outra estratégia para uma vez mais superar os desafios do mercado. Seus principais diretores, Álvaro Weiss, Luiz Engênio Duvoisin e Cláudio Gonçalves, passam a integrar o Conselho de Administração, percebendo apenas pela participação nas reuniões e desonerando a empresa com seus pró-labores. Três guerreiros que merecem todo o respeito e admiração pela luta, determinação e honestidade com que sempre defenderam os interesses da Artefama. No lugar deles, dois executivos passam a comandar a empresa. José Antonio Franzoni responde pela presidência e pela diretoria comercial. Diego Bodignon é o diretor industrial. O importante é que a cidade, com sua capacidade empreendedora, não se deixa abater - e enquanto alguns lutam pela sobrevivência, novos setores consolidam-se e passam a ser o carro-chefe de nossa economia. E assim vamos comemorando os 137 anos de São Bento do Sul!

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