Como escapar da crise

Enquanto a maior parte dos países trabalha para escapar da crise,
incentivando o consumo para que o mercado absorva sua capacidade de
produzir eletrodomésticos, automóveis, caminhões, remédios, vestuário
e outros produtos industrializados ligados a geração de empregos nos
setores industrial, do agrobusiness e de serviços. No Brasil,
inversamente, o Governo anuncia o aumento dos juros, para que os
brasileiros parem de comprar, viajar e comer. A justificativa é a de
que se continuar o consumo nos patamares atuais, os preços irão subir,
provocando inflação.

Entretanto, no resto do mundo civilizado, os juros são reduzidos a
quase “zero” para que o consumo retorne aos números praticados antes
da crise global. A explicação é a de que no Brasil é preciso frear o
consumo porque o Governo, nos últimos 20 anos, não investiu o mínimo
necessário no desenvolvimento da agricultura, na construção de
estradas, aeroportos, portos, produção de energia e apoio as
industrias brasileiras para produzirem mais e melhor. Aqui os preços
sobem porque tem gente demais querendo comprar, enquanto não existe
infraestrutura e produção para atender a demanda.

O inexplicável é que o governo federal, somente nos últimos oito anos
elevou a dívida pública, interna e externa, para 1,8 trilhão de reais,
mais de 1,5 trilhão de dólares. Para onde foi este dinheiro? Não está
em estradas, aeroportos, hospitais, na segurança ou na produção de
energia.

Se não houver mudanças, estes fatores farão com que a crise financeira
internacional, que eclodiu no fim de 2008 e pegou em cheio as nações
ricas, tenha como sua próxima vítima, o Brasil e seus números
incríveis.

Até agora o que nos salvou foi um real hipervalorizado impulsionado
pela política de injeção de recursos para salvar a economia dos
Estados Unidos. Este quadro mudará muito em breve, pois quando os
preços das commodities caírem, desaparecerá o efeito esponja que vem
absorvendo o excesso de oferta de moeda global que até então
beneficiou artificialmente o Brasil e a Rússia. A alta dos preços de
commodities ajudou as economias emergentes da mesma forma que a
sobrevalorização dos preços dos imóveis nos EUA. Em ambos os casos,
pessoas e empresas lançaram-se em gastos excessivos, contraindo mais
dívidas, todos gastando e se endividando acima das suas
possibilidades.

Isto é uma armadilha! No Brasil, o fenômeno é percebido pelo alto
endividamento do Governo, justificado em gastos e avaliações
irrealistas. Não por outra razão, que no início do segundo semestre de
2010 o Tribunal de Contas da União (TCU), divulgou relatório
criticando o desempenho da economia e as baixas taxas de crescimento e
a falta de infraestrutura . O relatório apontou como causa o fato do
Governo brasileiro estar descumprindo, sistematicamente, várias leis
relativas à execução do Orçamento Geral da União aprovado no Congresso
Nacional. O pior é que o Governo Federal participa, administra e é
responsável por mais de 25% da "atividade econômica privada"
nacional. Este fato gera maior insegurança institucional,
contaminando potencialmente os resultados econômicos.

Este fato já foi objeto de manifestação do economista Frederick
Jaspersen, do Instituto Internacional de Finanças (IIF), em reunião
anual do IIF, encerrada no dia 11 de junho de 2010, quando em
conferência à imprensa e aos membros da instituição que congrega os
mais importantes líderes das principais instituições financeiras do
mundo, ratificou a impressão quanto às fragilidades da economia do
"B"do BRIC, em face dos mesmos motivos apontados pelo Tribunal de
Contas Brasileiro.

Em 2009, o Produto Interno Bruto acumulado foi de R$ 3,143 trilhões
contra uma dívida pública interna superior a 1,7 trilhões de dólares;
a taxa de desemprego de 2009 chegou a 6,8% (idêntica de 2008); e
apenas 60% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
previstas para serem realizadas até 2010 foram executadas até 2009. O
Brasil tem a 14ª maior carga tributária de todo o mundo ao lado do
juro mais caro do mundo. Quem compra um eletrodoméstico no Brasil com
cartão de crédito paga próximo a 264% de juros ao ano. Nos EUA não
chega a 3%, no Japão menos ainda. Na Europa, algo em torno de 8%. Isto
é a prova de que no Brasil, mesmo com crise, o negócio é ir contra o
consumo e a geração de emprego.

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