Cartas aos meus personagens

Meus personagens se dispõem a tudo
E consentem em me combater, porém,
Qualquer que seja o lugar, nada fará diferença,
Desde grande ou pequeno o desafio.
Importa somente que eu não me evada,
Nem me apegue ao despretensioso jogo amoroso.

Quis frequentar as cenas desses personagens,
Ver-lhes os rostos, as expressões, mesmo fugazes,
Sentir-lhes bem de perto a respiração tensa,
Acompanhar os gestos teatrais que vão à apoteose,
Para, afinal, entender, tanto o sorriso quanto o pranto,
Estar nos bastidores após cada espetáculo.

As máscaras guardam a honra dos bons intérpretes,
Dão-lhes crédito e impõem o significado do argumento.
Nas cartas, a eloquência propõe confessar as tramas,
Explorar os conteúdos deixados à margem da história,
Porque toda culpa torna inútil o tardio resgate,
Então, cada qual conhecerá o verdadeiro tamanho da dor.

Quando escrevo as minhas cartas, os enigmas se parecem
Com peças de vestuário sem sintonia com o mundo real.
Entre comentários, descobre-se que alguém se calou,
Na multidão de vozes em falsete e de suspiros afadigados,
Antes do silêncio que virá em seguida abafar os corações,
Mas, no lugar onde me imagino,vejo meus personagens livres.
Daladier Carlos

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