Fim de estação


Folhas secam e caem dos galhos,
colorindo o caminho.
O outono, já grisalho,
esgotado, sai sozinho.
(Glosa)

Abre a vida a própria roda.
Sem paradas, não tem freios.
Corre e escorre, à sua moda.
Gira, e tudo se acomoda.
Estações vêm sem rodeios,
abrem e fecham os atalhos,
com ou sem a luz da lua,
lapidando os cascalhos.
Nas árvores, lá da rua,
folhas secam e caem dos galhos.

Enfeitada, a calçada
pinta e borda os meus sonhos.
Quebro a máscara, na estrada.
Vou sem peso, vou sem nada,
só com o manto que disponho,
e que dele desalinho.
Já não brigo com as sombras
que retiram, como linho,
do meu corpo, frágeis fibras,
colorindo o caminho.

Uma copa acinzentada
falou alto, aos meus olhos,
que a noite, atordoada,
escondeu a madrugada,
nesse corpo que eu encolho,
ao calor que amealho;
que a brasa que eu queimava
é o pó onde me espalho.
E, solene, me entregava
o outono, já grisalho.

De repente, de uma estrela
não mais vi o seu reflexo.
Apagou-se, logo aquela,
cujo brilho, na janela
dava à vida outro nexo.
Nem o lago, adivinho,
entendia que o destino
sussurrava, num cantinho,
que o planeta, matutino,
esgotado, sai sozinho.

Luzia M. Cardoso
RJ, 2011

Poema classificado e publicado na coletânea no 11º CONCURSO DE POESIAS DA UNIVERSIDADE SÃO JOÃO DEL REI /MG/2011.

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