Arnaldo Jabor admite que errou ao criticar o Movimento Passe Livre


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O áudio abaixo foi extraído da Rádio CBN


Amigos ouvintes, outro dia eu errei. Sim, errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. Falei na TV sobre o que me pareceu um bando de irresponsáveis fazendo provocações por causa de R$ 0,20. E era muito mais que isso!
Pois eu fiz um erro de avaliação e essa é a minha autocrítica. Este movimento, o Passe Livre, que começou outro dia, tinha toda cara de anarquismo inútil e critiquei-o porque temia que tanta energia fosse gasta em bobagens quando há graves problemas a enfrentar no Brasil.
Mas a partir de quinta-feira, com a violência maior da polícia, ficou claro que o Movimento Passe Livre expressava uma inquietação que tardara muito no país, pois desde 1992 faltava o retorno de algo como os caras pintadas, os jovens que derrubaram o presidente. Hoje eu acho que o Movimento Passe Livre expandiu-se como uma força política original. Até mais rica do que os caras pintadas justamente porque não tem um rumo e objetivo certo a priori.
Como escreveu o Carlos Diegues no jornal outro dia, o movimento é importante porque talvez o mundo tenha perdido a esperança em mudanças radicais. Talvez porque a revolução tenha perdido prestígio para a mobilidade social. Talvez porque não nos sentimos mais representados por nenhuma força política. É isso! Não vivemos diante de acontecimentos, amigos ouvintes. Mas só de incertezas, de não acontecimentos.
Na mídia, só aparecem narrativas de fracasso, impunidade e derrota. Essa energia do Passe Livre tem que ser canalizada para melhorar as condições de vida do Brasil, desde o desprezo que se trata os passageiros pobres de ônibus, passando pelo escândalo ecológico, passando pelo código penal do país que legitima a corrupção institucionalizada. Tudo está parado e essa oportunidade não pode ser perdida.
De um fato pequeno, pode sair muita coisa, muito crime pode estar escondido atrás de uma bobagem. Os fatos concretos são valiosos. Exemplo: não basta lutar genericamente contra a corrupção, há que se deter em fatos singulares e exemplares, como a terrível ameaça da PEC 37, que será votada daqui uma semana na Câmara dos Deputados e que acaba com a prática do Ministério Público, que pode reverter as punições do mensalão, que pode acabar com o processo da morte de Celso Daniel.
Como os alvos concretos existem, por exemplo, descobrir porque a Petrobras comprou uma refinaria por US$ 1 bilhão em Pasadena, no Texas, se ela só vale US$ 100 milhões. Por quê? Por que a ferrovia norte-sul está sendo feita há 27 anos, desde a era Sarney, e ainda quer mais 100 milhões para mais um trechinho novo. Por que o PAC não andou? Por que aeroportos, rodovias e ferrovias estão podres e sem concessões resolvidas. Por que as obras do Rio São Francisco estão secas? Por que as obras públicas custam o dobro dos orçamentos? Por que a inflação está voltando? Por que a infraestrutura do país está destruída? Por quê? E por aí vai, amigos ouvintes. Por quê? Por quê? O Passe Livre pode nos ajudar a responder essas perguntas.

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