As herdeiras do comissário



                                      Custódio Pereira*


O transcurso, em agosto, dos dez anos da morte do embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, que pereceu em 2003, no atentado que assassinou 22 pessoas em Bagdá, no Iraque, nos convida à reflexão sobre o significado do trabalho de pessoas e instituições dedicadas à promoção do bem comum. Incluem-se nesse contexto as fundações, organizações da sociedade civil (OSCs), entidades religiosas e filantrópicas, bem como seus dirigentes e colaboradores, que constituem o chamado Terceiro Setor.

Como se sabe, esse segmento cumpre, em todo o mundo, expressiva missão humanitária. É o capital de origem não estatal complementando as ações do setor público nas áreas da promoção social, ensino, saúde, cultura, iniciação profissional, esportes e alimentação. Trata-se de efetiva contribuição para a mitigação da miséria, inclusão econômica e abertura de oportunidades para milhares de indivíduos, principalmente crianças e jovens.

No Brasil, essa atividade tem apresentado acentuado avanço. Em 2010, já contávamos com 290,7 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos, segundo pesquisa divulgada em dezembro de 2012, baseada em dados do Cadastro Central de Empresas (Cempre) do IBGE. Entre 2006 e 2010, observou-se crescimento de 8,8% no número dessas organizações, seguindo-se a uma expansão de 22,6% no período de 2002 a 2005.

         A atuação do Terceiro Setor tem estreita analogia com o conceito do Dia Mundial da Ação Humanitária 2013, instituído pela ONU em homenagem às pessoas vitimadas no atentado ocorrido no Iraque em 2003, dentre elas o brasileiro Vieira de Mello. Este ano, a campanha alusiva à data tem o seguinte mote:"Vamos transformar palavras em ações”. Para as fundações e OSCs em geral, a frase transcende à retórica e à semântica, constituindo-se em desafio muito sério.

         No âmbito dessa iniciativa das Nações Unidas, empresas e cidadãos podem indicar, por meio de patrocínio, e votar em palavras que definem as demandas a serem atendidas para que a presente civilização solucione seus gargalos e cumpra os Objetivos do Milênio. É uma campanha com forte presença nas redes sociais, em cujo hot-site (http://worldhumanitarianday.org/) é possível expressar opiniões, complementando a frase “O mundo precisa de mais....” Os resultados, somente nos dois primeiros dias, com cerca de 1,2 milhão de votos, apontam para “saúde”, “educação”, “sustentabilidade”, “alimentação”, “bondade” e “solidariedade”, dentre outros termos.

         Eis aí as principais missões do Terceiro Setor, cujas instituições no Brasil, herdeiras do renovado compromisso de atuação humanitária de Sérgio Vieira de Mello, têm especial zelo no cumprimento dessa missão. De fato, essas organizações contribuem de modo expressivo para o desenvolvimento nacional, solução de problemas sociais e abertura de oportunidades de inclusão para milhares de pessoas. Por isso, merecem o máximo reconhecimento da sociedade e do governo.

         É importante lembrar que, há séculos, mesmo antes de qualquer lei e de se falar em Terceiro Setor, as organizações confessionais e filantrópicas já atuavam em prol do bem comum, prestando serviços relevantes, principalmente nos campos da educação, saúde e ação social. Exemplo disso é a Congregação das Irmãs de Santa Marcelina, fundada na Itália há 175 anos. Presente no Brasil desde 1912, há 101 anos, a instituição atua em nove unidades federativas (Bahia, Brasília, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins), mantendo instituições de saúde, como o Hospital Santa Marcelina e a Faculdade Santa Marcelina (FASM), na Capital paulista. Trata-se de uma das precursoras do Terceiro Setor brasileiro, cujo trabalho é cada vez mais importante para o desenvolvimento nacional.

*Custodio Pereira é o diretor geral da Associação Santa Marcelina, mantenedora dos Colégios e da Faculdade Santa Marcelina (FASM) e da FAFISM.

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