O Natal, a propósito da galinha dos ovos de ouro


                        
A ideia de percurso e a criação de objetivos existenciais são empreendimentos que prenunciam a perspectiva de uma ou mais ações quaisquer que terão de se ajustar às circunstâncias dos seus perfis, dos seus modelos ocasionais, isto é, das aparências e das evidências que cada situação sugere, ainda que para alguns ou muitos pareça menor, e até menos grave, a presunção de aparecer um entrave aqui, outro ali. Todavia, o importante a quantos disponham tomar as iniciativas que lhes pareçam apropriadas é dar o arranjo indispensável, o formato específico ao drama, ao evento, ao contexto, enfim, seja de que natureza for. Assim é, como se imagina na maioria dos fatos, o interior das interpessoalidades, aquela mistura de ideias, vontades, simples palpites ou inspirações, sempre ocorrentes numa sequência infindável de impressões e reações. São tais que governam a nossa bolsa de cotação de emoções positivas e negativas, de aprovação e negação, de simpatia e antipatia, isto porque estamos todos envolvidos numa corrente de acontecimentos que a rigor não sabemos como antecipar com exatidão, e a respeito dos quais não dispomos de capacidade para exercer total domínio. Então, a expectativa que costumamos estabelecer é a de que cada um de nós não mate a galinha dos ovos de ouro do seu próximo, ou seja, não destrua sequer a intimidade das suas incoerências, pois não há sentido em se propor juízo sobre a vida alheia, senão cada um fazê-lo sobre a sua própria. Esta digressão mais alongada surgiu após a construção de um poema que aponta para o cuidado que devemos ter com a galinha dos nossos ovos de ouro. Ela é uma referência da nossa fé, do valor e do sentido que damos aos objetos, da nossa estima por nós e pelo outro, como resultado palpável, através da sóbria compreensão, de tudo que fizemos durante a nossa caminhada neste planeta. Por igual, não podemos deixar de assumir as nossas indiferenças, antipatias, as lembranças das partidas mal jogadas, as bolas divididas sem maiores cuidados com o espírito de tolerância e esportividade. Melhor, então, que fôssemos capazes de superá-las, ao menos para estarmos em paz conosco, sem vaidades ou expectativas. Temos, é verdade - e será sempre inútil tentarmos esquecer isto -, um corpo de barro, mas precisamos estar atentos à sublime diferença de que também podemos ser luz, tanto para preservar nossos ovos de ouro quanto respeitar o direito do próximo de guardar os seus. A diferença entre as personalidades continuará sendo a marca individual de cada vida, mas o caráter intrínseco do amor à verdade e da ação do Espírito Santo em nós deve ser o princípio unívoco da nossa crença, da nossa paz. Feliz Natal a todos, em todos os lugares, em qualquer circunstância.
Daladier Carlos 
17 dezembro, 2013.

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