Abril

Abril

Era uma noite de abril
Eu me lembro era pequeno
Os salvadores do país
ditavam ordens do dia
que as engolíamos como drágeas
Os tanques desfilavam verdes
E bonitos
pelos bairros da cidade
Soldados eram crianças alegres
Naquele dia meu pai se calou:
Era um túmulo medroso
Minha mãe não cantou no tanque
como de costume
Rezamos o terço em família:
-“Meu pai e salvador
Não quero mais pecar
Perdoai-me senhor
Perdoai-me senhor..”
O pai era um homem sisudo
Nunca beijou as botas de Lott
Odiava Lacerda como a um satanás
Lançava ovos podres sobre Getúlio
Que minha mãe pegava debaixo da casa
Plínio desfilava com anauês
Sobre sua dignidade
Abril : o pai engoliu saliva
A mãe não cantou :
- “Crianças, todos para a cama !”

(Hamilton Faria, Poemas Quando Exílio. inédito)

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