UM NATAL DE VERDADE


por Richard Simonetti


A presença do rico automóvel diante da residência humilde, acontecimento inusitado naquela vila paupérrima e distante, despertou intensa curiosidade. Rostos surgiram nas janelas. Muita gente olhando de longe...

Desceram Gumercindo e Maria do Carmo, casal de meia idade, muito rico. Esquálida mulher os atendeu, rodeada por três crianças tímidas grudadas em sua saia. No colo materno, chorava um bebê, lamento ardido de fome... Logo apareceu o marido, figura lastimável, barba por fazer, olhar assustado. O visitante quebrou o gelo:

– Estamos aqui em tarefa de amizade. Temos recebido incontáveis bênçãos de Deus, negócios prósperos, filhos saudáveis, casa ampla e confortável, muita fartura. No entanto, eu e minha esposa não nos sentimos plenamente felizes... O que nos sobra falta em muitos lares. O ouro amoedado traz facilidades, mas pesa em nosso coração. Decidimos, por isso, ir ao encontro de nossos irmãos...

– Pois é – completa Maria do Carmo. – Gostaríamos de saber como vivem, suas dificuldades e problemas. 

Como poderemos ajudá-los. Iniciaremos nosso entendimento neste Natal, oferecendo-lhes brinquedos, roupas e alimentos, em nome de Jesus...

– Tenho certeza de que foi Ele quem os inspirou – interrompe, emocionado, o dono da casa. – Nossa situação é desesperadora. Estou desempregado há seis meses... Já não temos recursos nem para o alimento. A luz foi desligada por falta de pagamento... Minha esposa está doente. As crianças cobram-me o presente, indagando por que Papai Noel não visita gente pobre. Eu decidira que a situação iria mudar, por 

bem ou por mal. Planejara assaltar abastada mansão. Enfrentaria a polícia, mataria se preciso, mas não regressaria ao lar de mãos vazias... No entanto, não sou criminoso. Tenho uma existência toda de trabalho honesto, cultivando respeito às leis... Os senhores salvaram-me de um pesadelo...

Sufocado pela emoção, derramando-se em lágrimas, o operário ajoelhou-se e beijou as mãos de seus benfeitores, sem que estes pudessem evitar o gesto extremo de humildade e reconhecimento.

Após alguns minutos de entendimento fraterno, Gumercindo e Maria do Carmo entregaram os presentes e partiram, levando a certeza de que aquela família teria um Natal feliz. Felicidade maior ia em seus corações. 

Haviam descoberto a insuperável alegria de ajudar...

***

A violência e o crime são desvios lamentáveis que se oferecem àqueles que transitam pelos caminhos da miséria e do infortúnio. A própria sociedade contribui para tão desastrosas opções ao ignorar a existência desses infelizes.

Quando nos dispusermos a superar as barreiras da indiferença, do comodismo e do apego aos bens transitórios, oferecendo amparo e orientação aos irmãos em dificuldade, a mensagem do Natal começará a ser observada, favorecendo a erradicação do Mal.

​Richard Simonetti​

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