A revolta da Abimaq

Preocupada com a atual política cambial adotada pelo Banco Central, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) tem insistido em chamar a atenção do governo para os efeitos negativos que a estratégia de Michel Temer causa ao setor. O problema da falta de competitividade assusta, a ponto de a entidade empresarial emitir nesta sexta-feira um comunicado oficial, reproduzido a seguir:

– Após 15 anos de real fortemente apreciado, que reduziu a indústria de transformação para menos da metade neste período, a equipe econômica do governo Temer volta a utilizar a velha política de juros altos e câmbio baixo, que já quebrou o País em 1999, e que é uma das grandes responsáveis pela atual crise econômica.

Adiante, o texto, num tom duro, alerta:

– Os débeis sinais de recuperação de alguns setores industriais resultantes do curto intervalo de tempo no qual o câmbio esteve relativamente competitivo, que também quase eliminou o déficit em conta corrente, estão ameaçados de serem abortados.

E conclui:

– Entendemos que uma taxa de câmbio abaixo de R$ 3,60 por dólar coloca em risco este início de recuperação, desestimula o setor produtivo a brigar no mercado externo e elimina o único drive disponível no curto e médio prazos para voltarmos a crescer.

Nesta sexta-feira, às 10h32, o dólar estava cotado a R$ 3,21, em ligeiro declínio em relação a quinta-feira. Muito abaixo dos R$ 3,60 do “piso” reclamado pela Abimaq. A desvalorização já chega perto de 20% desde o começo do ano. Evidentemente, o governo não tem de atender a demandas pontuais, nem de grupos empresariais, nem de segmentos com poderoso lobby. 

Essa política antiga, dos favores, já não cabe numa sociedade que se pretende moderna e orientada para práticas republicanas. Mas, neste caso, a discussão é outra. O que acontece é a progressiva perda de capacidade da indústria nacional de se desenvolver, notadamente numa área fundamental, como é a da produção de bens de capital. Obviamente, o segmento é essencial à retomada dos investimentos empresariais em geral. Não dá para desconsiderar que as cadeias produtivas têm de se modernizar, constantemente, para manterem-se nos mercados – quando eles voltarem a melhorar.
Sabemos que todos os fatos admitem, ao menos, dois pontos de vista. Quero dizer que outra face visível do cenário macroeconômico ligado às questões cambiais é a do turismo. O dólar em baixa faz a classe média olhar para o mapa mundial e desejar viajar para o exterior. Sim, a R$ 3,30 ou algo parecido no câmbio turismo, já não parece tão caro fazer as malas e ir para Orlando, Nova York, Barcelona, Paris, Milão ou Londres. 

Para os viajantes, a percepção de que o câmbio está num preço justo – ou próximo disso – vem daquela ideia de que a comparação das coisas, no decorrer dos tempos, é a mãe das decisões. Sim, porque se há 17 anos o dólar valia muito menos do que hoje, é bem verdade que rondava, e chegou a ultrapassar, os R$ 4 em meses não tão distantes.

Como a humanidade só tem memória de curtíssimo prazo, é natural que se lembre dos R$ 4 e, agora, se anime novamente a gastar nas paisagens norte-americanas e europeias. Ainda mais que é no início do verão lá no hemisfério Norte. Época da qual os brasileiros gostam porque precisam de sol para serem felizes. Os apressados sem passaporte terão de ter paciência. 

A emissão do documento obrigatório demora mais do que o normal. A máquina que o produz estragou nesta semana. A improvisação obriga a importar da Alemanha, onde (quase) tudo funciona. São as artes do nosso Brasil desajeitado.

Ninguém com um mínimo de conhecimento técnico sobre o tema dirá que a oscilação da cotação da moeda é estranha. É assim que funciona. O sobe e desce é intrínseco ao comportamento do mercado financeiro. Especulativos por natureza e sempre plugados em todas as notícias em tempo real para se posicionar rapidamente, os seus agentes são, por definição, racionais, antecipadores de tendências. 

Por isso mesmo, de posse de informações e dados dos mais precisos, têm capacidade de encaminhar-se para um lado ou outro, de acordo com o domínio das situações que surgem nas telas dos computadores. E, principalmente, com aquilo que absorvem dos bastidores da política e das falas de autoridades voltadas a aspectos das atividades relacionadas ao comércio exterior.

Enquanto isso, sobe o tom da gritaria do empresariado. Aí, a preocupação é com o andar da desindustrialização progressiva da economia brasileira. Um fenômeno já detectado há uns quatro anos, pelo menos.

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