Muito mais do que vergonha

Muito mais do que vergonha

Vergonha é um termo muito singelo para definir o que aflora ao se observar o presidente do Brasil vergar a espinha diante dos americanos. É verdade, Bolsonaro não foi o primeiro. Mesmo FHC, experiente no tráfego pelos salões internacionais, por vezes se colocou como subalterno nas relações com os EUA. Lembremos que uma alta autoridade brasileira chegou a tirar os sapatos para entrar em solo americano. Mas, na semana passada, o tenente que virou capitão e não foi expulso do Exército por causa de um acordo no Superior Tribunal Militar mostrou uma coluna vertebral de fazer inveja aos artistas do Cirque du Soleil.
O problema maior, porém, é que pouco importam os sentimentos, sejam eles de vergonha ou de raiva. Política deve se fazer com a razão. Nesse sentido, o curvar de Bolsonaro traduziu a adoção de uma prática entreguista ilimitada e até uma traição. Afinal, muitos de seus eleitores acreditaram estar levando à Presidência alguém com valores nacionalistas, impiedoso na defesa da soberania. E essa constatação nada tem a ver com resquícios da eleição. Não se trata de ter ou não votado na turma dos milicianos. Não se trata de petismo — aliás, também envergonha ver um ex-presidente preso por corrupção. Só não podemos dizer que fomos surpreendidos.
Era sabido que Bolsonaro iria se curvar. Para ele, soberania nacional se faz cantando o hino nas escolas, pondo banca de xerife de quarteirão e apregoando contra um perigo vermelho que há décadas não existe. Era sabido que ele e sua turma iriam entregar o País aos americanos e até servir de ponte para uma ação na Venezuela. O que ainda não se sabe qual é a política de Bolsonaro que extrapole os berros contra o PT (até porque venceu a eleição) e a subserviência aos EUA. A falta de uma clara política de governo e a absurda ausência de qualquer projeto oposicionista, venha de onde vier, coloca no horizonte uma enorme interrogação.
O que se sabe de concreto é que já na semana passada, diante do papel de capacho feito pelo presidente, o sinal de alerta foi ligado no comando das Forças Armadas. Oficiais da ativa, que frequentaram a Escola Superior de Guerra, não toleram esse entreguismo barato. Não admitem ser usados para atender os interesses de Trump na Venezuela e não digeriram a dação da Base de Alcântara. A questão é muito maior do que a vergonha. Tratam-se de incertezas que ficam ainda mais desesperadoras quando não se tem sequer um esboço de oposição propositiva a essa patacoada.

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