Meu governo
Meu governo acaba de perdoar a dívida do país amigo, Então, posso encontrar repouso nas minhas requintadas contradições, Pois, fui arguto o bastante para cooptar os mais maliciosos, E arranjei coligações, estiquei as indulgências com os partidos, Para submeter-me ao jogo aberto de cartas marcadas, Tendo ainda o cuidado de não sair por aí testando a minha imunidade. As reticências do poder estão em mãos duplas de cérebros militantes, Estes, sim, não cometem jamais o erro de deixar a pasta sobre a mesa, Porque entendem que os negócios de Estado pertencem somente a eles, Logo, não há prêmio algum a ser repartido com alguém fora da sala, Assim, no meu governo quero escrever a mais romântica ditadura, Vez que toda memória será competente e definitivamente apagada. Contudo, desconfio de que as bancadas não me apoiarão por anos a fio, Mas me preparei para incentivar os sonetistas da democracia a me dar versos, Para estabelecer com eles o Ministério das Vocações Poéticas, Espécie de braço ar