Os olhos do coração

A ciência pode até provar o contrário, mas definitivamente me certifiquei que os corações tem olhos, enxergam. Não poderia ser diferente e eu levei 17 anos para chegar a esta conclusão. Foi preciso que outros olhos se fechassem para que eu abrisse os meus e me desse conta desta realidade. Também que o colírio que faz com que os olhos de quem perdeu a visão totalmente voltem a enxergar tem um nome e não é fabricado em laboratório. É o amor. E assim foi uma linda história que começou com um senhor já cinqüentão e que havia perdido a visão em um acidente, bateu em uma porta para pedir um copo de água e acabou encontrando os olhos que passaram a enxergar por ele. Falo de Simão Siqueira, cidadão curitibano que naquela oportunidade conheceu Maria Rosellis e para provar que coração tem olhos, foi amor a primeira vista. Viveram, compartilharam, foram cúmplices, amantes e amigos até a manhã de quinta-feira, quando Rosellis que enxergava por Simão teve seus olhos fechados pelos desígnios de Deus. Foram 17 anos de convívio em que ele através do coração passou a enxergar, amar, “ver as cores, admirar as flores, conhecer cidades e pessoas” que ele descrevia como se tivesse visto com uma lupa. Nada melhor para provar que o pior cego é aquele que não quer enxergar. Simão repartiu com Rosellis momentos de uma vida íntima e que nem tudo foram só alegrias. Ela como um anjo da guarda o protegeu e lhe mostrou pelo carinho tudo muito mais do que ele poderia ter enxergado com seus próprios olhos. Rosellis partiu, foi uma prima, uma amiga muito querida. Solidária daquelas que fez que até a cobradora da linha de ônibus que ela utilizava com alguma freqüência fosse lhe fazer uma despedida. Quanta saudade, quantos momentos de alegria e festas tivemos juntos. Ela que aqui foi os olhos de Simão, como disse sua amiga Terezinha, com quem dividiu a incumbência de criar Marina, poderia ser um cometa, mas este simplesmente deixa um rastro de luz. Rosellis será uma estrela que brilhará para sempre em algum lugar especial deste universo e que com certeza além de estar nos iluminando, estará espiando ao lado da querida “Tacha”, que deve ter lhe preparado um acolchoado bem quentinho para recebê-la lá no céu, como fazia para nós nas noites frias de Curitiba. A cada perda de uma pessoa do naipe de Rosellis, morremos também um pouquinho. Simão, você não estará desamparado e podes crer, ela continuará te guiando lá de cima. Muitas vezes você irá ouvir uma voz sussurrando como se fosse um GPS, “está aqui, olhe o degrau, não esqueça teu remédio”. Fique com Deus minha querida, um dia nos encontraremos.

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