Literatura é escolher palavras

Caetano me acha reacionário, direitista e carola. Digamos que seja verdade. Muda a literatura de Chico Buarque? Huummm… Todas as vezes que eu abrir Budapeste, além da cortina “arreada”, como apontou Yara Chiara, vou ser afrontado por coisas assim:

Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio. A companhia ofereceu pernoite num hotel do aeroporto, e só de manhã nos informariam que o problema técnico, responsável por aquela escala, fora na verdade uma denúncia anônima de bomba a bordo. No entanto, espiando por alto o telejornal da meia-noite, eu já me intrigara ao reconhecer o avião da companhia alemã parado na pista do aeroporto local.

O que é literatura? Se lhe pedirem uma definição em quatro vocábulos, creio que a melhor resposta seja esta: “Literatura é escolher palavras”. Por decoro, não comento a primeira frase do trecho. O narrador de Chico deve ser o único no mundo que “espia por alto” jornal de TV, assim como quem passa os olhos num catálogo. Espiando por alto embora, foi o bastante para reconhecer o avião da companhia alemã e para ficar intrigado.

Tenham paciência! Os exemplos de inadequação do vocabulário ao que se pretende narrar brotam aos borbotões. Volta e meia, citarei alguns. Não para provar que minha pinima nada tem de ideológica — estou cantarolando e andando para esse tipo de acusação. Faço-o porque é divertido evidenciar a que foi reduzido certo ambiente intelectual brasileiro e porque dou uma banana para os coronéis do pensamento. Não devo nada a eles. Não preciso deles nem mesmo para vender livros.
Por Reinaldo Azevedo

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