O povo é sempre usado como objeto de manobra

Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem
Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm
consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo
que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é
silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são
incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo
tornam-se capazes dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio
adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é
uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a
verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse
pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é
enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da
razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de
imagens. Os votos, nas eleições, dizem apenas quem é o artista que
produz as imagens mais sedutoras...
O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à
coletividade.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante
a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava
violinos e matava cãezinhos a pauladas na rua, em nome da verdade
proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar...
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
No domingo em entrevista após o jogo do Palmeiras, com o Corinthians,
o goleiro Marcos que discordou do comportamento dos torcedores, povo,
que agridem jogadores, fez referência que entre as coisas importantes,
o futebol é a menos importante. Lembrou também que os jogadores os
quais os torcedores, povo, quer bater, e agredir, são trabalhadores e
que estão envolvidos em um jogo no qual é a vontade de todos ganhar,
mas que não existem dois vencedores. Cobrou deste mesmo povo que quer
sacrificar jogadores por um resultado negativo, que sejam mais
cidadãos e que cobrem com o mesmo rigor as ações dos políticos, as
falcatruas, os desvios de verbas, a falta de assistência médica,
segurança.
O povo, unido, jamais será vencido! De vez em quando,
raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um
poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e
seguindo a canção."
Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é
uma realidade, é uma esperança.

Comentários

  1. Ah... Quem me dera fosse da geração do Caetano, Geraldo Vandré, quem dera eu fosse bonita, eu sou apenas uma poetisa tola...

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  2. Texto muito bom! Concordo com tudo o que foi dito.
    Acredito que essa "covardia coletiva" seja conseqüência da "união que força" ou do fato de que, em meio a muitos manifestantes ou torcedores, é quase impossível descobrir o responsável por um ato isolado. Como saber qual dos torcedores lançou um objeto em direção a outra pessoa, por exemplo? As câmeras de segurança não permitem uma apuração tão eficiente e há uma certeza de impunidade que leva às pessoas liberdade para agredir ou desacatar. Há também uma idéia de auto proteção por pertencer ao grupo mais forte. Como atingir alguém que está ao lado da maioria? O oponente teria muitos inimigos no momento do ataque (e talvez posteriormente também). Por essa razão, ditadores, ao lado de seus exércitos, fazem o que bem entendem.
    E para pertencer a essa maioria, é mais cômodo não pensar algo diferente do que foi dito. É mais fácil tentar se adaptar e fazer o mesmo que tentar parar um movimento. Ou simplesmente convencer um grupo a pensar no que está fazendo.
    E sobre educadores (no caso, os pais)... esses têm de conter o que há de animal irracional e agressivo no ser humano enquanto este ainda estiver em fase de adestramento. Pitágoras estava certo ao dizer que educando as crianças, não haveria necessidade de punição aos homens. Aos artistas cabe a tarefa de transmitir suas ideologias. Mas só os que foram "acostumados a pensar", por ação de pais e educadores, serão capazes de se permitir pensar na arte apresentada.

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