SE AQUELA RUA FOSSE MINHA...
"Menina
que está na roda, me diga o que é"...
O que é esta saudade
que chega de mansinho e traz de volta aquela rua dos bons tempos da
meninice, dos meninos levados e meninas comportadinhas que, mesmo assim,
atiravam pau no gato e cantavam histórias tristes do cravo que brigou com a
rosa?
Eu,
menino conquistador, largava a pandorga, as bolitas, o peão, os botões do
futebol de mesa, as pedras das cinco marias, barquinhos de papel, tacos do
bate-ombro, só pra ficar olhando vocês e ouvindo que Samba Lelê estava doente,
com a cabeça quebrada; e vocês ainda achavam que ele precisava de uma boa
lambada... nossa!
Gostava
de ouvir aquelas coisas inocentes da Terezinha de Jesus, acudida por três
cavalheiros... E eu sonhava ser o terceiro deles.
Outras
vezes, vocês despertavam minha curiosidade pra saber quem era o personagem
escolhido quando cantavam:
"Ai,
ai!
Que
tem?
Saudades!
De
quem?
E ficava
frustrado quando não era de mim... Era do cravo, da rosa, da flor de
laranjeira...
As
vezes, aguçavam meu apetite quando se perguntavam: O que prefere? Uva, Pera,
Maçã ou salada mista?
Vontade
de me meter na brincadeira e gritar, QUERO TUDO!...
Outras
vezes eu ficava contando junto com vocês os ovos da galinha do vizinho, mas
vocês ignoravam...
Mas o
menino aqui era danado e fazia de tudo pra chamar a atenção de
vocês...
Pensei
até visitar algumas e só não o fiz por temer que o pai
atendesse:
_ "O que quer na minha porta,
mando tiro, tiro lá!"
Eu nunca
teria coragem de dizer:
_ "Quero uma de vossas filhas,
mando tiro, tiro lá!"...
Tentei
ser Dolindolê, Pai Francisco, carneirinho, carneirão, propor casamento
japonês, passar anel, ficar por último no passa-passa cavaleiro, mas
quá!
Pensava:
_ Será que é porque eu sou
pobre, pobre, pobre, de marré marré, marré?...
E
acabava dizendo a mim mesmo:
_" Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar!"
_" Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar!"
Tentei,
em vão, oferecer-me escravo de Jó e fazer tudo o que o mestre mandasse, mas
a única vez que deixaram, o que ouvi foi "
_"Por
isso, seu fulano entre dentro dessa roda, diga um verso bem bonito, dê adeus e
vá-se embora!"..."Passa, passa, gavião!"
Antes
que me ameaçassem com um chicotinho queimado, eu saia de mansinho e voltava pro
meu canto, até a hora de voltar pra casa, tomar banho, dormir e sonhar com
aquela rua cheia de meninas que acabaram por marcar minha infância de menino
maluquinho.
Ah,
se aquela rua fosse minha! ...
Eddson C
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domingo
pede cachimbo e croniquetas doidas!
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