As omissões e as grandes comoções



O brasileiro é um dos povos mais solidários, emotivo e que se comove facilmente. Interessante que a cada tragédia sempre fica uma lição, mas o aprendizado por mais trágico que seja é curto e as consequências só ficam para aqueles que são enlutados. O Brasil, o Rio Grande do Sul, Santa Maria, o mundo se comoveu com a tragédia do incêndio na Boate Kiss que matou mais de 250 pessoas. Um estrago que provocou enjôos, mal estar, impotência. Que revelou todo o descaso das autoridades, falta de fiscalização, alvarás mal concedidos, omissão, mas que é a realidade dos ambientes onde as festas e a alegria, às vezes são substituídas pelas tragédias. Jovens, vidas promissoras, estudantes universitários, carreiras pela frente, quase ninguém com mais de 30 anos. O abalo, o choque a comoção para todos logo passará e ficará apenas a estatística da segunda maior tragédia com perdas de vidas em um incêndio no País. A dor maior, a falta, o insubstituível, a ausência, a tristeza e saudades só não serão esquecidos pelos familiares que perderam seus filhos, netos, irmãos.
O pragmatismo da morte, a dura realidade das perdas, o despertar neste novo dia com a certeza de que nada mais pode ser feito, deverá ser o grande sofrimento de familiares e amigos dos que se foram.
A cidade de Santa Maria não será mais a mesma depois desse acontecimento sombrio.
Podemos dar todo o apoio, acolher a quem sofre essa dor única de pais que perderam filhos, invertendo o ciclo natural da vida, mas somos obrigados a refletir sobre o ocorrido, para tentar salvar outras vidas, e construir uma cultura de prevenção, para que essas tragédias, de certa forma anunciadas, não voltem a se repetir.
Já se sabe, a esta altura, que a casa noturna que incendiou e matou tantos, estava com total irregularidade nas medidas de proteção contra incêndios, e que sua obra era uma verdadeira arapuca, com uma única entrada/saída e sem os recursos necessários para proteger vidas e combater acidentes.
Mas a visão puramente burocrática dos poderes públicos pode colaborar, pela omissão e falta da noção de perigo, para que mais mortes se repitam.
Por todo o país é notória a falta completa de medidas punitivas e coercitivas para que essas casas de diversões funcionem impunemente.
Qualquer local, mesmo sem as mínimas condições é adaptado e grandes festas e ajuntamentos humanos são feitos sem qualquer preocupação com a segurança dos frequentadores.
Ou o poder público, em todos os seus níveis, assume seu papel educador, e preventivo, ou ainda iremos chorar muitas vidas perdidas.
Quantos ainda morrerão, quantas famílias terão que ficar enlutadas, quanta dor deverá ocorrer, até que essas atitudes criminosas, que só visam o lucro e o ganho fácil, sejam combatidas, punidas, prevenidas e sanadas?
Agora só resta procurar os culpados. E, eles não estão longe. Somos todos nós. São as autoridades em quem confiamos. São os exploradores do lucro sem nenhum escrúpulo e preocupação com a vida. Não precisamos ir longe. Há anos Evolução percorreu vários estabelecimentos em São Bento do Sul e mostrou a nossa realidade. Clubes, salões e sociedades sem o mínimo de prevenção. Portas de fugas que abriam para dentro. Falta de saídas de pisos superiores para áreas externas. Instalações elétricas precárias e sobre carregadas.  Falta de caixas d’água, hidrantes e para-raios.  Falar em segurança especializada, isto então não passa de piada.  Quase fomos sacrificados por alguns membros de diretoria e proprietários de casas noturnas. Como aqui não se age, mas se reage, está mais que na hora de uma blitz nestes estabelecimentos, mais com uma força tarefa que mobilize todos os setores da segurança em conjunto. Se não for agora, tudo logo cairá no esquecimento e também poderemos ser notícia nacional pela omissão.

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