Encantou-se a poeta


 “As Estrelas Brilham à Noite”
.
A noitinha - recebemos um email do presidente da UBE-MS nos informando que a Nildes Tristão Prieto, na data de hoje, 19 de setembro, viajou para o infinito.
Foi para Pasárgada se encontrar com os outros poetas e artistas que a precederam, e, nos aqui ficamos mais pobres porque uma luz se apaga na poesia, mas, como ela mesma afirmou - no titulo do seu livro AS ESTRELAS BRILHAM À NOITE.
E, agora, fica em nossos corações o gosto amargo do adeus e da saudade, embora que -  poetas não morrem - encantam-se.
Aos seus familiares, amigos, parceiros - o nosso abraço fraterno.
Quero homenagea-la com a poesia que mais gostei de ouvi-la declamar.
De Castro Alves, e, em nossas lembranças,a voz, os gestos, a perfomance de  Nildes Tristão Prieto:
.
O Navio Negreiro, Tragédia no Mar
.
“'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro...
.
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
.
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
                                                                                    .
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
.
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
.
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
.
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
.
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
.
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
.
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
.
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
.
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
.
Delasnieve Daspet
Poeta em Mato Grosso do Sul
Presidente da Associação Internacional Poetas del Mundo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Europa Brasileira

Pedradas do PedroKA

PEDRADAS DO PEDROKA