Pedradas do PedroKA

Estou feliz
Como brasileiro da gema estou feliz com a vitória da nossa seleção e com nossos craques. 

Comparando
Apenas para efeitos de comparação, li outro dia que o deputado federal Mauro Mariani carreou recursos da ordem de R$9 milhões para Rio Negrinho. Já o deputado Pedro Uczai (PT) que obteve apenas 652 votos em São Bento do Sul nas eleições de 2014, só com o Instituto Federal, carreou R$ 16 milhões em reciprocidade.

Compartilhando
Publicado no face e que compartilho com tristeza e misto de vergonha.
Por vezes, desde que voltei a morar em São Bento do Sul, escrevi sobre o preconceito que permeia a cidade. Seja ele racial, social, sexual, político ou qualquer outra espécie de discriminação.
Por vezes já me disseram que isso é besteira, que não existe tal coisa aqui na terrinha.
E por vezes recebi criticas por fazê-lo. Chegando ao ponto de pessoas virem me dizer que ofendo 90% da cidade quando discorro sobre o assunto, de que eu deveria ir embora do município se penso assim, de que sendo são bentense, branco e privilegiado (acesso a educação, saúde, moradia, alimentação) eu não tenho condições de comentar à respeito.
Pois bem, caguei pra tudo isso, e nesse espaço vou tentar sintetizar algo que presenciei e que pode ilustrar sobre o que falo.
Provavelmente, aqueles que perambulam pelas ruas da cidade, mais especificamente as ruas centrais, ainda mais especificamente a Rua Felipe Schmidt, já repararam (se não estavam como zumbis olhando para os celulares) garotos fazendo artes circenses - ou malabares, como queiram - nos intervalos do semáforo da rua em questão. Alguns com claves, alguns com bolas, alguns com argolas, alguns com facas, enfim, são diversas possibilidades nesse segmento artístico.
Ontem (25\06) pela manhã, estava passando pela área e notei que havia uma pequena aglomeração ao redor de um desses jovens, que pratica esta arte (com facões) no local, como forma de ganhar alguma grana. No entorno dele estavam duas mulheres, um homem com walkie-talkie e dois PMs. Estranho né? Pois foi exatamente o que pensei, ainda mais por ver o garoto gesticulando, claramente em uma tentativa de argumentação. O sinal abriu e segui, mas já com a intenção de estacionar e procurar saber o que estava acontecendo. Fiz. Mas ao chegar lá já não havia mais ninguém, nem PMs, nem as mulheres, nem o homem do walkie-talkie e muito menos o rapaz. Tentei encontrá-lo. Em vão. Segui a vida.
Hoje (26\06) por coincidência, acaso ou seja lá o que for, trombei com o guri na praça, quando ele estava escolhendo algumas peças de roupa no Varal Solidário. Naturalmente começamos a conversar, e claro, tive a oportunidade de entender o que de fato havia ocorrido no dia anterior.
Segue...
O moleque é argentino, está em São Bento à 1 semana, e viaja de bike com seu cachorro pelas cidades, apresentando sua arte em troca de alguma grana para alimentação e abrigo (de ambos). A vibe deles é essa, viajar com pouco, para conhecer lugares, pessoas e acumular experiências. Sua intenção não era parar aqui, mas no trajeto, na serra Dona Francisca pra ser exato, ele sofreu um acidente e sua bike foi colida por um caminhão. Sim, ele e o cão estão bem, já a bike...
Então ele conseguiu carona, encostou na cidade, levou a bike para a oficina e fez o orçamento: R$40 reais. E é para atingir esse valor que ele está se apresentando no sinal. Nem mais, nem menos. Apenas esse valor. Ele queria arrumar a bicicleta e seguir viagem.
Naquele momento que descrevi acima, de aglomeração em torno dele, o que houve foi o seguinte. Ele se apresentava nos intervalos do semáforo normalmente, quando o tal homem do walkie-talkie o interpelou dizendo que ali naquele sinal, ele não poderia ficar. Ele questiona o porquê e pergunta quem é o tal homem, que por sua vez se apresenta como chefe do DETRU (Órgão de Trânsito). O guri insiste e pergunta o porquê dele não poder permanecer no local, uma vez que não estava atrapalhando ninguém, muito menos o trânsito (e quem mora em SBS sabe que essa moçada das artes circenses de semáforo não importunam e nem obstruem nada, aliás, se tem alguém/algo que atrapalha o trânsito aqui, é o próprio DETRU) porém, ele usa a gíria ‘’mano’’ e foi ai que a atitude do homem mudou. O tal ‘’chefe do DETRU’’ saiu da casinha, elevou o tom de voz, disse que não era ‘’mano’’ de argentino, que ele não conseguia nem falar o português para querer estadia no Brasil, que se ele quisesse fazer malabarismo em sinal, que fosse no país dele, que ele não deveria estar aqui na cidade e deveria CRUZAR LOGO A FRONTEIRA, disse pra ele reparar bem na COR DE PELE dele e depois na das pessoas que circulavam nas ruas aqui, que essa era uma cidade ‘’EUROPEIA’’, que MORENINHO TATUADO tem tudo pra fazer MERDA, que era melhor pra ele SUMIR do município.
Nesse momento, por acaso, duas mulheres da assistência social (as moças que comentei acima que vi, mas que até então não sabia quem eram) passavam pelo local e notaram a confusão, se aproximaram e tentaram acalmar a situação, entender os fatos e buscar a melhor solução. O guri então, indignado com tudo aquilo que havia escutado, disse para o cara repetir, desta vez na frente das assistentes sociais, as coisas que havia disparado contra ele momentos antes, e foi então que o poderoso chefe do DETRU resolveu acionar a PM. Ao chegarem, os PMs tiveram uma atitude também agressiva, com entonação de voz própria para acuar o moleque, não deixando que ele se posicionasse e ameaçando de o levar detido caso ele insistisse na questão. Ele então (condescendentemente) resolveu ir embora.
Conseguimos arrumar sua bike, e amanhã, ele e seu irmão cão, pretendem seguir a jornada. Ele disse que mesmo com o pouco tempo aqui, e com essa situação toda, achou a cidade linda, esbarrou com muita gente boa, disse que seu sonho é estruturar sua apresentação e pretende voltar para cá, com um espetáculo circense itinerante, que possa ser apresentado e apreciado pelas pessoas sem que seja nos sinaleiros, e que vai convidar o chefe do DETRU, os PMs e suas famílias, para que, palavras dele: ‘’Eles vejam que, independente de condição social e cor de pele, minha busca é tão digna quanto a deles.’’
O preconceito, o racismo, a intolerância, estão presentes em diversas formas, camadas e vieses. Negar isso é hipocrisia. É lamentável que um racista criminoso comande a GT.
E pra você são bentense, que fica putinho quando alguém toca nesse assunto, mas que vive na sua bolha germânica européia, que não procura conhecer outras realidades, que é permeado pelo bairrismo, que se sente violado com o diferente, que tem severas dificuldades com empatia e compaixão, pra você realmente não existe racismo, nem preconceito, nem intolerância, pra você, o mundo é branquinho, feito com móveis sob medida e chopp gelado.
P.S - Ahh! Ele acertou o resultado do jogo de hoje - ARG 2 X 1 NIG 
(Quero deixar claro que eu não sei quais as leis sobre intervenções artísticas nos semáforos, porém, nesse caso, o que gerou a ‘’proibição’’ e que ficou claro e extremamente caracterizado, foi preconceito e racismo, nada tem haver com leis ou o fato de ser um malabarista que utiliza facões, ou nada nesse sentido.)


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